Sinopse: Talvez o poeta mais original da literatura inglesa, William Blake foi uma espécie de símbolo das manifestações socioculturais dos anos 1960 e 1970. Ao lado da psicologia de Carl Jung e Sigmund Freud, da filosofia e da religião orientais, das experiências da geração beat e do flower-power, via-se em sua poesia a expressão de uma nova era de Aquário, a rejeição de uma ordem mundial fundada no materialismo em detrimento da espiritualidade. Passado meio século, aquelas manifestações são história, ou adquiriram outras formas, mas a ordem mundial permanece, de ponta-cabeça, mais materialista e mais bruta. E a poesia de Blake continua instigante expressão dos valores humanos, ainda mais relevante. Visões assinala essa relevância: reúne onze livros que Blake publicou de 1789 a 1795, com os quais procura evidenciar a coerência do essencial da obra e afastar a distorcida percepção de insanidade do autor. Os poemas testemunham a formação e o amadurecimento de sua visão de mundo, num fértil período de quase sete anos, quando na casa dos trinta: aqui o leitor encontra dos poemas líricos das Canções de Inocência e Experiência até o que se convencionou chamar de “profecias menores”.
Resenha/Opinião: Nascido em Londres, em 1757, William Blake foi um dos mais influentes poetas e artistas plásticos ingleses. Desde cedo, afirmava receber a visita de entidades celestiais, tendo sua mente sido assolada por visões de natureza fantástica que o artista buscava retratar através de suas pinturas e poemas. Estudou arte na renomada Royal Academy, mas tinha como marca registrada a total recusa por seguir qualquer doutrina artística e a constante oposição a seus tutores e colegas de classe, o que acabou resultado no desenvolvimento de uma arte muito única e característica. Sua obra é vasta e intrinsecamente ligada a questões que assolavam o século XVIII, como as ideias iluministas, a Revolução Industrial inglesa e suas consequências. Pagou um alto preço pela produção de uma de suas principais obras: as ilustrações para "A Divina Comédia", de Dante; trabalho exaustivo que o levou a negligenciar seu péssimo estado de saúde e acabou ficando incompleto por conta de sua morte.
Trazido ao Brasil pela editora Iluminuras, "Visões" compila nada menos que onze livros publicados pelo autor entre os anos de 1789 e 1795, das "Canções da Inocência e Experiência" às chamadas "Profecias Menores", passando pelo "Livro de Thel", "O Matrimônio do Céu e do Inferno" e outros clássicos. O volume nos permite acompanhar de perto o desenvolvimento da obra de Blake em um dos períodos mais prolíficos de sua carreira, bem como o vislumbre de sua peculiar visão de mundo. Os poemas estão dispostos na língua original e na tradução de José Antonio Arantes, que também assina o prefácio. Aliás, que prefácio! Quase uma biografia, riquíssima em informações.
Tida por muitos como difícil, a poesia de Blake (sendo ele também tido como louco, às vezes) configura uma experiência de leitura única. As imagens que o "Bardo de Álbion", como ficou conhecido, são, muitas vezes, perturbadoras. E mesmo que possam ser tratadas como fantasiosas (Blake detestaria esse termo), suas poesias estão fortemente ligadas ao contexto histórico em que foram concebidas. Há muita crítica social e questionamentos aos dogmas religiosos de uma Inglaterra extremamente moralista. Blake era um fervoroso questionador do mundo ao seu redor e isso fica bem claro em sua mais célebre citação: "se as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é: infinito." Conceito que ecoa, por exemplo, nas obras de Aldous Huxley e na música dos Doors.
Se é realmente uma poesia difícil? Talvez o termo mais correto seja enigmática. O livro está recheado de notas de críticos e estudiosos especializados em Blake e, adivinhe?, nem mesmo eles chegam a um consenso. Seus poemas estão repletos de simbolismo, ambiguidades e referências bíblicas. Blake também bebe muito de "Paraíso Perdido", de John Milton. Sem dúvida, essa leitura (que estou devendo faz tempo) fez falta para uma maior compreensão da obra. Mas a experiência não deixou de ser imersiva e intrigante. Em diversos momentos, me peguei pesquisando suas pinturas, em busca de alguma pista que pudesse dar luz a alguma passagem que não havia entendido. É o tipo de leitura que inspira o leitor a ir atrás de referências, favorece o trabalho de pesquisa e desperta a sede de saber mais sobre esse intrigante e peculiar poeta do século XVIII.
Sobre o autor: William Blake foi um poeta, pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica, e tipógrafo. Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra. A literatura estava no auge do que se pode chamar de clássico "augustano", uma espécie de paraíso para os conformados às convenções sociais, mas não para Blake que, nesse sentido era romântico, "enxergava o que muitos se negavam a ver: a pobreza, a injustiça social, a negatividade do poder da Igreja Anglicana e do estado." Blake escreveu e ilustrou mais de vinte livros, incluindo "O livro de Jó" da Bíblia, "A Divina Comédia" de Dante Alighieri - trabalho interrompido pela sua morte - além de títulos de grandes artistas britânicos de sua época. Muitos de seus trabalhos foram marcados pelos seus fortes ideais libertários, principalmente nos poemas do livro "Canções da Inocência e da Experiência", onde ele apontava a igreja e a alta sociedade como exploradores dos fracos.
Ficha técnica:
Título: Visões: Poesia Completa
Autor: William Blake
Autor: William Blake
Tradutor: José Antonio Arantes
Editora: Iluminuras
Páginas: 428
Ano: 2020
ISBN: 9786555190588
Ano: 2020
ISBN: 9786555190588
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